Barra do Jucu e o congo capixaba
Barra do Jucu é um mundo paralelo dentro do municípico de Vila Velha. A ”Barra”, como é conhecida, fica no caminho de Vila Velha/Vitória para Guarapari. Mundo paralelo porque seus moradores vivem meios alheios ao resto do mundo, e essa é a beleza do lugar. Apesar de Vitória ser uma capital, de exisitirem buzinas, trânsito, ônibus lotado e essas chateações da cidade, a Barra do Jucu esta totalmente alheia a isso e vive sua vida num ritmo próprio.
Lá as pessoas ainda colocam suas cadeiras de praia em frente da casa para ver a vida passar, as pessoas ainda se conhecem e falam bom dia/boa tarde/ boa noite, ainda existe aquele senso de comunidade que se perdeu nas capitais, inclusive nas de menor porte como Vitória. Por muitos anos o carnaval da Barra foi familiar, com seus blocos bem daqueles que não existem mais onde os tios/primos/netos/avós/pais/filhos saem vestidos de mulher num bloco de carnaval enquanto a família observa dando risada e tirando foto, aquela coisa de cidade pequena, só que num bairro.
A Barra não está isenta de violência e outras coisas do dia a dia de uma cidade, mas o clima continua sendo de cidade do interior, porém com praia! E uma coisa que me encanta, e do que eu tenho muita saudade, são as festas de congo. Por isso hoje no Throw Back Thursday é dia de continuar falando do Espírito Santo, e falar da minha saudade maior. O congo é um ritmo musical que mistura folclore/religião/musica/cultura de um jeito bem brasileiro. Quem nunca ouviu Madalena, gravada pelo Martinho da Vila? Pois ele incrementou uma música do congo capixaba e fez desta sua música mais conhecida!
O santo padroeiro do congo capixaba é o São Benedito, o que significa que o congo segue o catolicismo. E duas festas do congo da Barra são particularmente interessantes : a retirada e fincada de mastro. Os fiéis saem em direção a igreja de São Pedro, onde é fincado ou retirado o mastro de São Benedito, que vai geralmente junto com a imagem do santo e é carregado por homens.
No final de tudo a musica continua e a festa também. Esses eventos são um deleite para quem como eu, curte festas folclóricas e regionais. Elas são comandadas pelas bandas de congo Mestre Alcides e Tambor de Jacarenema. Uma procissão, que leva o mastro na fincada e vai buscá-lo na retirada, segue com ao som dos tambores de congo. Muita gente idosa vestida a carater e dançando durante todo o caminho.
Gente, só de escrever eu fico arrepiada. É bonito demais ver pessoas(muitas vezes idosas) por horas, num sol a pino rodando suas saias, segurando uma imagem ou estandartes como se fosse normal ficar todo aquele tempo com o braço na mesma posição naquele sol E dançando.
Elas devem entrar em transe, única explicação. E o povo vai atrás, também dançando e cantando as músicas de congo por todo caminho. A bebida está liberada, o que faz essa mistura de festa pagã e religiosa, tudojuntoemisturado, ainda mais peculiar.
O congo tem tambores enormes, e geralmente os músicos sentam em cima do tambor para tocá-los. Além dos tambores, um instrumento muito particular é usado, a casaca, que é uma espécie de reco-reco muito alto. O instrumento costuma ser lindo, colorido, e imita o corpo e cabeça de uma pessoa. Para poder tocar a casaca é preciso segurar firme no que seria o pescoço da imagem no instrumento. Dizem que os escravos usavam a casaca e seguravam em seus pescoços como se estivessem enforcando os senhores que lhe fizeram mal, e tocavam o instrumento como se estivessem machucando suas costelas.
O mais bacana dessas festas de congo é que elas não escolhem, todo mundo é bem vindo. E realmente é um lugar onde você verá de tudo. Gente muito humilde, gente rica, classe média, gente que vai por fé, gente que quer festa, famílias, crianças, idosos, tudo mesmo. E todo mundo junto, se respeitando, é muito legal.
Eu passei minha adolescencia indo a Barra do Jucu, nos carnavais e nas festas de congo, e da penúltima vez que fui ao Brasil coincidiu de ser fincada de mastro. Foi um dos dias mais felizes dessa minha visita.
Revi amigos e vi um filme da minha vida passar enquanto seguia aquela procissão, me emocionei o percurso todo, fotografei, curti cada segundo.
Para quem resolver visitar uma das festas de congo, óbvio que não terá o mesmo sentido que tem para mim. Mas sem dúvida é uma oportunidade maravilhosa de ver um pouco da cultura capixaba e se sentir um nativo por alguns minutos. E ver uma festa linda também, tão desconhecida pelo Brasil mas tão bem regional e ao mesmo tempo tão brasileira.
É complicado achar informação sobre os eventos do congo pois é tudo muito primitivo e eles querem que seja assim.
Vi num site desses que tem agenda cultural que eles falam dos eventos do Congo da Barra, o Eu sou ES. Deve valer a pena ficar de olho na agenda desse site, que fala dos eventos em geral no estado.
Para saber mais sobre a história do congo, de uma olhada nesse site.
E para ver um vídeo de uma festa de congo e entender melhor como funciona, dê uma olhada aqui. e aqui
Além do congo da Barra do Jucu, na Serra também há outros grupos de congo e festas parecidas, mas eu não conheco então prefiro não falar sobre.
Gostou de saber sobre a Barra do Jucu e o congo capixaba ? Então leia todos os outros sobre o Espírito Santo aqui.
*Toda quinta vamos publicar fotos e escrever sobre viagens do passado, numa referencia ao famoso hashgtag #throwbackthursday usado nas redes sociais para identificar uma foto do passado. A intenção dessa série de posts não é necessariamente dar dicas práticas, pois por serem antigas elas podem estar fora do contexto atual do local. A idéia é inspirar com fotos e lembranças de lugares incríveis!




Que lindo, Lili! Eu também arrepiei aqui.
Tenho um carinho enorme pela Barra do Jucu, apesar de frequentar muito menos do que gostaria. E eu nunca tive a oportunidade de assistir a fincada do mastro. 🙁
Salve o congo capixaba!
Tiago,
Você precisa ir um dia, é lindo, emocionante. A Barra do Jucu tem um lugar enorme no meu coração 🙂
Linro relato, parabéns, Lili. Agora é esperar pela próxima quinta, fico ansiosa/curiosa, a espera desse dia da semana pra ver sua publicação, mãe coruja incorrigível, essa sou eu, bjs
Babona, rs. Que bom que gostou, esse dia foi maravilhoso e lembrar também foi uma delícia.
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Melhor do que participar da festa é participar de todo o ritual de preparação e ainda não poder brincar e ver a satisfação felicidade de todos que participam , mesmo que seja pela primeira vez.
É uma mistura de devoção e satisfacao que contagia a todos
Muito lindo né?!